quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Uma nova crise econômica mundial: entendendo suas causas e consequências

Artigo produzido por Frederico Mafra
Consultor Sênior da Global ON Consultores Associados

Uma nova crise econômica mundial se apresenta, e nem bem saímos da crise anterior de 2008. Por que mais uma crise? Trata-se de um efeito de quatro anos atrás? Este artigo vai buscar explicar, em rápidas palavras, o que está acontecendo agora no ambiente econômico internacional, e como isso pode chegar, de fato, à realidade brasileira e impactar a vida do cidadão.

Para começar, é importante destacar que a atual crise que se coloca é, sim, conseqüência dos efeitos da crise de 2008. Naquela época, como forma de minimizar seus impactos, os governos de todo o mundo tomaram medidas que buscaram estimular suas economias, visando aumento ou, no mínimo, manutenção do consumo interno, da produção e do emprego. Dentre as medidas, destaque para: redução das taxas de juros, disponibilização de crédito, subsídios e/ou redução de impostos a setores considerados estratégicos e, principalmente, aumento de gastos públicos.

Tais medidas, entretanto, geraram resultados não tão satisfatórios assim, principalmente nas economias consideradas desenvolvidas, como nos Estados Unidos e alguns países da União Européia. No Brasil, os resultados foram, de certa forma, positivos, e o país conseguiu, de forma rápida, superar a crise e crescer fortemente em 2010, com geração de emprego e renda, e forte consumo interno.

Entretanto, os Estados Unidos e os países europeus continuaram apresentando fraco crescimento econômico, com inflação, desemprego e, principalmente, enormes déficits públicos (sendo este aspecto também observado no Brasil).

Era inevitável que este problema viesse a ser um dos principais desencadeadores da atual crise que se coloca novamente no cenário internacional. Atualmente, países como Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Estados Unidos demonstram sinais de dificuldade em cortar gastos públicos para reduzir seus déficits e, ao mesmo tempo, pagarem suas dívidas. O agravante é que as medidas adotadas em 2008 não podem, agora, serem novamente adotadas, pois não há taxas de juros para cortar, não há como os governos aumentarem seus gastos públicos e nem reduzirem impostos, e as economias estão fracas, sem condições de crescerem e gerarem emprego e renda. O cenário agora está pior do que antes.

Tudo isso tem impactado nas avaliações de risco desses países, feitas por instituições internacionais. E quando vários países passam a apresentar maiores riscos para honrar seus compromissos com os investidores e demais parceiros globais, uma crise global tem todas as chances de se instalar, como é o caso agora.

Nas bolsas de valores o reflexo é imediato. Maiores riscos afugentam investidores, que tentam preservar seus ganhos e patrimônio investidos em títulos e papéis de governos e empresas multinacionais, vendendo-os e substituindo-os por outros ativos mais ‘seguros’, como o ouro e moedas mais fortes (mais valorizadas), por exemplo.

E o Brasil, como fica neste contexto de uma nova crise? Nosso país, com certeza, será também afetado, pois é uma economia global, e está inserida neste ambiente. Mas podemos desenhar, neste momento, dois cenários um pouco distintos.

Num primeiro cenário, mais otimista, o Brasil poderia se utilizar de alguns mecanismos já implementados em 2008, diferentemente dos países europeus e dos Estados Unidos que não têm mais esta possibilidade. É possível cortar juros para facilitar novamente o crédito e diminuir o custo de financiamento das empresas e do próprio governo, utilizar o alto nível de reservas para ‘segurar’ a valorização do Real (que tende a se intensificar com a crise), contando ainda com a manutenção do consumo interno como principal pilar de sustentação da economia brasileira, e um nível de geração de empregos que mantenha a renda nacional. Neste sentido, inclusive, a presidente Dilma já mencionou, em seu discurso sobre a nova crise, que conta com a continuidade do consumo interno e da manutenção no ritmo da economia brasileira para os próximos meses, semelhante ao que foi dito pelo ex-presidente Lula quando da crise de 2008.

Num segundo cenário, mais pessimista, podemos ter uma volta da aceleração inflacionária no país, já que uma eventual redução dos juros, agora, poderia estimular o consumo e pressionar, novamente, os preços no mercado interno. Outra conseqüência negativa é uma valorização ainda mais acentuada do Real frente ao Dólar, exigindo do governo medidas ainda mais interventivas no mercado, caracterizando, de fato, uma crise cambial no país. Reflexo desta situação seria sentido na indústria, com a substituição de produtos nacionais por importados, e conseqüente redução de postos de trabalho (desemprego). Além disso, com a crise em caráter global, os produtos nacionais teriam maiores dificuldades em encontrarem mercados compradores, agravando a situação das empresas exportadoras e o próprio resultado da balança comercial brasileira. Por último, todo este contexto poderia gerar um círculo vicioso na economia, com empresas parando de investir, ou cortando gastos, aumento do desemprego, queda na renda nacional, diminuição do consumo interno, queda no crescimento do país, e assim sucessivamente, contribuindo para a constituição de um cenário de recessão futura.

Na realidade, temos que esperar um pouco mais para conseguirmos enxergar, de fato, qual cenário se apresenta mais provável para a economia brasileira no futuro, já que estamos no início desta nova crise, no ‘olho do furacão’, e muita coisa é dita e profetizada neste momento. Mas uma coisa é certa: a forma como o sistema financeiro mundial funcionou até agora terá que mudar; novas regras deverão ser criadas, e o modelo de funcionamento deste sistema não será mais o mesmo daqui para frente. Os países agora, de fato, terão que pensar em uma nova ordem econômica global para os próximos anos, sob o risco de não conseguirem sair da atual crise que se coloca, e ainda ficarem mais vulneráveis a crises futuras.

Se pudesse aconselhar alguém neste momento, diria o seguinte: para o consumidor brasileiro, cautela quanto à ‘tentação’ (ou solicitação do governo) de consumir mais agora do que ele pode pagar. Ou seja, não se endividar mais, e conseguir pagar as dívidas contraídas no ano passado devem ser as prioridades neste instante. Para as empresas, o desafio será conseguir enxergar, em meio à tempestade do mercado, oportunidades. Elas sempre existem, e estão colocadas para aquelas empresas que, num passado recente, souberam planejar suas ações, e têm condições agora de avançarem em meio às dificuldades que muitas outras terão, e que não conseguirão superar.