domingo, 2 de junho de 2013

TERMÔMETRO ECONÔMICO - Abril e Maio de 2013

O governo, enfim, se rendeu ao óbvio, e aumentou a taxa SELIC para 8,0%, em defesa da estabilidade econômica e combate à inflação. Por outro lado, os dados do 1º trimestre do PIB brasileiro ficaram abaixo da expectativa, o que ajuda a construir um cenário macroeconômico de pressão inflacionária, taxas de juros em alta, e baixo crescimento, tudo o que o governo não queria, mas que poderia ter evitado há mais tempo. O Dólar, que vinha se mantendo no patamar de R$ 2,00 há vários meses, fechou o maio em R$ 2,1430, principalmente devido às boas notícias vindas do mercado americano.
  • PIB cresce 0,6% no 1º tri de 2013, menos do que o esperado pelo mercado e pelo governo: Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que o PIB cresceu 0,6% no 1º trimestre em relação aos últimos três meses de 2012, chegando ao valor de R$ 1,11 trilhão. Os economistas esperavam um número maior, perto de 1%, mas acabou ficando no piso das projeções, que estavam entre 0,6% e 1,1%. Isso significa que a economia manteve exatamente o mesmo ritmo de crescimento registrado no último trimestre do ano passado (0,6%). Como um todo o PIB melhorou, mas foi puxado, principalmente, pela Agropecuária e pelos Investimentos, que cresceram 9,7% 4,6%, respectivamente. A Indústria teve queda de 0,3%, e os Serviços, que têm maior peso, avançaram ‘apenas’ 0,5%. Segundo o IBGE, o consumo das famílias cresceu só 0,1%, enquanto o do governo ficou estável. Segundo o IBGE, o PIB acumula crescimento de 1,2% em 12 meses em relação aos quatro trimestres anteriores. Em relação ao 1º trimestre de 2012, o crescimento é de 1,9%.
  • Boletim Focus reduz novamente estimativa do PIB em 2013 para 2,77%: De acordo com o último Boletim Focus de maio, o Banco Central reduziu mais uma vez a previsão do PIB para 2013, de 3,00% no início do mês, para 2,77% no final do mês. Para 2014, a projeção também caiu, de 3,50% para 3,40%. O governo, que em março acreditava em crescimento de 4%, já admite baixo desempenho para este ano, e com a decisão (pelo menos aparente) de priorizar o combate da inflação, a tendência é que a economia tenha que ser trabalhada não sob o viés do crescimento via consumo, mas com investimento produtivo e ampliação da oferta.
  • Banco Mundial prevê que Brasil crescerá menos que a América Latina em 2013: A região da América Latina e do Caribe deverá crescer 3,5% neste ano, ante alta de 3% no ano passado, mas ainda ficará abaixo da média de 5% observada antes da crise de 2008 e 2009 ou de 6% em 2010, prevê o Banco Mundial, em seu relatório semestral. O banco projeta que o Brasil e a Argentina deverão ter crescimento abaixo da média regional em 2013, em torno de 3%, superando, porém, a taxa de crescimento de 2%, em 2012. Segundo o relatório, estão diminuindo os ventos globais favoráveis que facilitaram o crescimento econômico robusto e a inclusão social na América Latina e Caribe na última década. O banco destaca ainda que o novo contexto global — de excesso de liquidez, crescimento mais lento na China, atividade econômica fraca e dívida pública elevada no mundo desenvolvido— aponta para a necessidade de a América Latina fazer mais por conta própria, a fim de voltar às taxas de crescimento semelhantes às taxas registradas na última década. Ele afirmou que a ênfase política está mudando dos motores externos para motores de crescimento interno, e das preocupações com a estabilidade macroeconômica e financeira para reformas de estímulo à produtividade. "À medida que os ventos globais favoráveis diminuem, a capacidade dos países da América Latina para crescer acima de 3,5% depende essencialmente deles mesmos”. O relatório observa que as conquistas da América Latina e Caribe na década de 2000 foram significativas, incluindo a estabilidade macroeconômica, crescimento sólido, redução da pobreza e uma distribuição de renda mais justa. De acordo com o Banco Mundial, o desafio para a política econômica daqui para frente é "preservar e trabalhar sobre os ganhos passados, consolidando os dividendos de um crescimento com inclusão social, e fazer isso sem a ajuda de ventos favoráveis globais".
  • COPOM aumenta, pela 2ª vez consecutiva, a taxa de juros SELIC para 8% ao ano: O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros – a SELIC – de 7,5% para 8,0% ao ano, na última reunião realizada em 28 e 29 de maio. O motivo, segundo nota, foi a inflação, que tem sido motivo de preocupação da equipe econômica nos últimos meses. "O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano", disse a nota. Tal decisão veio confirmar as análises deste boletim, iniciadas há quase um ano atrás, de que a autoridade monetária teria que aumentar, em algum momento, a taxa de juros básica da economia para segurar a inflação. A decisão foi tomada por unanimidade entre os membros do COPOM. Na reunião anterior, em 17 de abril, dois dos oito integrantes do Comitê votaram pela manutenção da taxa em 7,25% ao ano. Esta última alta, a 2ª consecutiva, ocorre no mesmo dia em que foi divulgado que economia brasileira cresceu abaixo do esperado no 1º trimestre de 2013. Na reunião de abril, o Comitê já havia indicado que a inflação preocupava não só pelo índice como pela dispersão – ou seja, pela quantidade de itens que registravam alta. Ainda assim, havia uma aposta de que "incertezas" na economia do Brasil, e principalmente, no cenário externo, reduziria a pressão sobre os preços, o que acabou não se confirmando como esperado. Em nota, a Força Sindical avaliou que a decisão do COPOM "acende o sinal de alerta para os trabalhadores porque, embora os índices mostrem bom nível de emprego, elevar a taxa SELIC contribuirá para a redução de investimentos no setor produtivo, obrigando o governo a pagar mais juros para investidores”. Ao contrário da Força Sindical, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FECOMERCIO-SP) apoiou a decisão do COPOM. "O BC acertou duplamente ao elevar a SELIC em 0,5 ponto percentual: indicou atenção ao patamar atual e à trajetória da inflação e cautela em promover um ajuste gradual da taxa", afirmou, em nota. A próxima reunião do COPOM está marcada para 9 e 10 de julho. Segundo as projeções do Banco Central, em seu último Boletim Focus de maio, a taxa SELIC deve ficar em 8,50% em 2013 (0,25 ponto percentual acima da projeção feita no início do mês). Para 2014, a projeção também está em 8,50% (no início do mês era de 8,25%). Ou seja, a expectativa é de que haja, pelo menos, mais um aumento da SELIC ainda em 2013. Outro fato importante foi a mostra do Presidente do Banco Central de que o foco de entidade deve ser, prioritariamente, o controle da inflação e da moeda, e não um instrumento de política do governo, como estava acontecendo até então.
  • IPCA-15 de maio fica em 0,46% e acumula 3,06% em 2013: O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial brasileira, apresentou variação de 0,46% em maio e ficou abaixo da taxa de 0,51% registrada em abril. Em 2013, o IPCA-15 apresenta valor acumulado de 3,06%, bem acima da taxa de 2,39% relativa a igual período de 2012, o que justifica a preocupação do mercado e do próprio governo com a persistência da inflação neste ano. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA-15 situou-se em 6,46%, descendo dos 6,51% presentes nos 12 meses imediatamente anteriores. Os grupos ‘Saúde e Cuidados Pessoais’, ‘Vestuário’ e ‘Habitação’ tiveram os maiores impactos no IPCA-15 (1,30, 0,76 e 0,72 ponto percentual, respectivamente). Os remédios, em especial, com 0,10 ponto percentual, lideraram os principais impactos do mês. Já o grupo ‘Alimentos e Bebidas’ (que tem sido o grande vilão da inflação nos últimos meses), embora tenham aumentado 0,47%, mostraram forte recuo em relação a abril, quando a alta havia sido de 1,00%, e contribuíram fortemente para a queda do índice em maio.
  • Inflação medida pelo IGP-M ficou estável em maio, em 0,00%: O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a chamada ‘inflação do aluguel’, fechou o 5º mês de 2013 em 0,00%, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com isso, o acumulado em 2013 está em 0,9936%, e nos últimos 12 meses, o índice está em 6,2160%. Segundo as projeções do Banco Central, em seu último Boletim Focus de maio, o IGP-M deve ficar em 4,27% em 2013 (a projeção feita no início do mês era de 4,75%). Para 2014, a projeção está em 5,30% (no início do mês era de 5,28%).
  • Dólar fechou maio em R$ 2,1430: O Dólar encerrou o 5º mês do ano acima de R$ 2,00. A cotação de 31 de maio foi de R$ 2,1430, ante R$ 2,0100 verificada no início do mês. O Euro fechou maio a R$ 2,7676, ante R$ 2,6258 verificado no início do mês. Especificamente com relação ao Dólar, apresentou em maio ganho de +6,61%, e no ano, até agora, acumula ganho de +4,74%. A previsão para a taxa de câmbio, feita pelo Banco Central para 2013, conforme o último Boletim Focus de maio, é de R$ 2,05. Para 2014, a taxa de câmbio está estimada em R$ 2,10. O Banco Central (BC) manteve-se longe dos negócios. Profissionais do mercado citaram que, aparentemente, a autoridade monetária está disposta a permitir um Dólar em patamares mais altos. O movimento de alta no Brasil acompanha o avanço da moeda americana no exterior, onde o Dólar sobe ante boa parte das divisas com elevada correlação com commodities e em relação ao Euro. Os dados positivos divulgados nos Estados Unidos – aumento do índice de confiança do consumidor americano - têm motivado a busca pelo Dólar, em meio à percepção de que, com a economia americana se recuperando, aumentam as chances de que o Federal Reserve (FDE, o banco central do país) reduza o programa de compra de bônus. Com as boas notícias, os principais índices de ações em Nova York e na Europa subiram, enquanto o Dólar se fortaleceu com a perspectiva de que, numa economia em recuperação, os estímulos do FED podem ser retirados no futuro próximo. Isso, nas últimas semanas, tem fortalecido a moeda americana. No Brasil, mesmo com o Dólar acima de R$ 2,07, o BC não entrou no mercado — o que poderia ocorrer, conforme alguns analistas, por meio de leilão de swap cambial tradicional (equivalente à venda de dólares no mercado futuro). A decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) sobre a SELIC traz um ingrediente adicional para os negócios. Apesar de o BC, na visão de alguns profissionais, estar confortável com um Dólar mais alto, já que o controle preferencial da inflação será feito via SELIC, ainda há certa preocupação com a alta da moeda americana.
  • Brasileiros têm endividamento recorde no 1º trimestre: O endividamento dos brasileiros com o sistema financeiro nacional bateu novo recorde ao final do 1º trimestre de 2013. Segundo o Banco Central, as dívidas das famílias correspondiam, em março, a 43,99% da renda anual. Em fevereiro, recorde anterior, o índice estava em 43,79%. No fim do 1º trimestre de 2012, era de 42,37%. Segundo o BC, parte do aumento do endividamento nos últimos anos está ligada ao crédito habitacional. Se forem excluídas as dívidas com a compra de imóveis, o endividamento fica em 30,48% da renda em março, ante 30,54% em fevereiro. Em março do ano passado, estava em 31,17%. Ao divulgar os dados sobre o crédito em abril, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que muitas famílias estão substituindo o pagamento do aluguel (que não entra na estatística da instituição sobre dívidas) pelo financiamento habitacional, um endividamento de longo prazo, com juros mais baixos e que significa aumento de patrimônio. O BC também divulgou números sobre o comprometimento de renda dos brasileiros, que considera dados mensais de renda e prestações pagas aos bancos. As prestações correspondiam, no 3º mês do ano, a 21,66% da renda mensal dos trabalhadores, ante 21,84% em fevereiro (dado revisado). Também houve queda em relação a março de 2012, quando o comprometimento estava em 22,91% da renda. Se forem retirados da conta os financiamentos habitacionais, o comprometimento da renda mensal fica em 20,06% em março de 2013, ante 20,24% em fevereiro.
  • Brasil criou 196.913 vagas de trabalho em abril: Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), referentes a abril de 2013, foram criados no Brasil, 196.913 novas vagas de emprego com carteira assinada, expansão de 0,49% na comparação com março, mantendo a trajetória de expansão, e constituindo-se no maior saldo do emprego desde maio de 2012. Nos últimos 12 meses, o índice registrou a criação de 1.087.410 postos de trabalho, correspondendo à elevação de 2,79% no contingente de empregados celetistas do país. No acumulado do ano, o mercado teve um acréscimo de 549.064 novas vagas. Na análise mensal, houve elevação em todos os oito setores de atividade econômica analisados. Em números absolutos, o destaque ficou com Serviços, com 75.220 novas vagas de trabalho, seguido da Indústria de Transformação (+40.603 novos postos), da Construção Civil (+32.921 novos postos) e da Agricultura (+24.807 novas vagas).
  • Taxa de desemprego atinge 5,8% em abril, segundo o IBGE: A taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas do País, ficou em 5,8% em abril, ante 5,7% em março. O resultado veio no teto do intervalo das estimativas colhidas pelo AE Projeções, que iam de 5,5% a 5,8%, com mediana de 5,6%. A taxa é a menor para um mês de abril desde o início da série histórica, em março de 2002. Em relação a março deste ano, a população ocupada caiu 0,1% e, ante abril de 2012, avançou 0,9%.
  • “Economia dos EUA nunca mais será a mesma”: A época de ouro vivida pelos Estados Unidos antes do início da crise econômica em 2008, não deverá mais voltar, de acordo com Tharcisio Souza Santos, diretor do MBA executivo da FAAP, especialista em economia internacional. A afirmação do diretor é pautada pela comparação com a economia britânica nos anos 20, após o Tratado de Versalhes, acordo de paz na Europa, que colocou fim oficialmente à primeira Guerra Mundial. "O ano de 2008 nos Estados Unidos é o 1919 dos ingleses. Devagar, depois do tratado, o império financeiro do mundo, em Londres, foi passando para Nova York. O mesmo irá acontecer com os Estados Unidos, que deixará de ser a potência econômica para a China e nunca mais voltarão a ser como antes", explica o professor. No entanto, ele destaca que os americanos continuarão a ser poderosos em pesquisa, organização e armamento, mas "a economia da China irá ultrapassá-los na metade da próxima década", pontua. A declaração veio após uma análise sobre o desempenho da economia dos Estados Unidos no 1º trimestre. A primeira estimativa do Produto Interno Bruto da maior economia do mundo teve expansão de 2,5%, contra crescimento de 0,4% no 4º trimestre de 2012, impulsionada pelo aumento de 3,2% no consumo das famílias (contra 1,8% no trimestre anterior), pela alta de 2,9% nas exportações (ante -2,8% no último trimestre de 2012) e pelo expressivo crescimento dos investimentos do setor privado (12,3%, contra 1,3% no trimestre imediatamente anterior). No entanto, o valor ainda ficou abaixo das expectativas, que previam crescimento de 3,2%. A melhora foi limitada por causa dos gastos do governo com consumo e investimento, que caíram 4,1% (vindo de uma queda de 7% no 4º trimestre de 2012) por conta da forte contração dos gastos com a defesa, cuja queda foi de 11,5%. "Esse resultado reflete o ajuste fiscal iniciado pelo governo norte-americano no ano fiscal de 2013, que prevê um corte de US$ 85 bilhões no orçamento, sendo metade desse total deduzido exatamente do orçamento destinado ao Departamento de Defesa", aponta o analista da Concórdia, Flávio Combat, em relatório. Na opinião do professor, a presença militar americana nos outros países será cada vez menor, por conta da redução dos investimentos e também porque "o americano já está cansado deste cenário". Desta maneira, os gastos do governo já não serão mais uma das molas propulsoras do crescimento do país, mas sim os investimentos do setor privado. "Os americanos continuarão liderando as pesquisas de inovações, educação e saúde, mas manterão seu ritmo de crescimento entre 2,5% e 3%", diz Santos, que projeta expansão para este ano entre 1,5% e 2%. No que se refere à questão fiscal, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, apresentou ao Congresso um plano de gastos de US$ 3,8 trilhões para o próximo ano, que já contempla uma série de medidas para conter o aumento de gastos com saúde e seguridade social. No entanto, para conseguir esses cortes, a Casa Branca prevê aumento da tributação sobre as famílias mais ricas e sobre as empresas, propostas incisivamente combatidas pelos republicanos. "O aumento de impostos sobre os mais ricos e empresas é parte fundamental do ajuste fiscal planejado pelos democratas, que enxergam as iniquidades tributárias entre as classes mais ricas e as mais pobres como um dos principais problemas a serem enfrentados durante a reforma fiscal", completa Flávio Combat. Segundo estimativas da Casa Branca, a elevação dos impostos permitiria o aumento da arrecadação em US$ 1 trilhão na próxima década. Os republicanos insistem na manutenção dos benefícios fiscais e enfatizam a necessidade de cortes de até US$ 4,6 trilhões para os próximos dez anos, com severos ajustes nos programas sociais financiados pelo Estado. O resultado mais imediato desse embate é o travamento da pauta de projetos que tramitam no Congresso, dificultando a aprovação de novos estímulos para sustentar a atividade nos Estados Unidos. "Essa questão é totalmente política, o que é super normal, mas no fim os republicanos sabem que os democratas são mais fortes, uma vez que têm apoio da população", enfatiza o diretor da FAAP.