quarta-feira, 4 de setembro de 2013



AGORA É TARDE...

(Artigo baseado na reportagem, "Petrobrás dificulta vida de fornecedores", publicada pela Agência Estado/Jornal Estado de Minas, dia 02/09/2013)
Para ler a reportagem, clique aqui.

É lamentável perceber que até hoje, empresas, de diversos segmentos da economia, continuam arriscando tudo que conquistaram ao longo de anos de trabalho simplesmente por não seguir dois princípios básicos da Administração; jamais depender apenas de um fornecedor ou cliente para conquistar e manter sua saúde financeira (não por todos os ovos na mesma cesta) e nunca deixar de monitorar os ambientes relacionados ao seu negócio, para não ser pego de surpresa por mudanças que venham a ameaçar sua posição no mercado. 

Mesmo com todo o acesso à informação, não é difícil encontrar empresas que, estando bem estabelecidas em sua zona de conforto, não se preocupam em monitorar o ambiente externo e seus agentes e acabam sendo surpreendidas por mudanças de cenário, que de modo geral, costuma levá-las a grandes perdas e por vezes, a falência.

No caso dos fornecedores da Petrobrás, estes já deveriam ter percebido os sinais que vinham sendo passado da empresa (Petrobrás) para o mercado e, mais importante, o tipo de leitura que alguns “stakeholdes” vinham fazendo destes sinais.
Devido à manutenção do preço dos combustíveis por um tempo superior ao dos demais preços da economia, a Petrobrás, já há algum tempo, vinha atravessando dificuldades de caixa e consequentemente, perdendo sua capacidade de investimento. A leitura desta situação começou a ficar mais clara quando os investidores, vendo que não obteriam a remuneração justa pelo seu investimento, começaram a fugir dos papéis da empresa. Somou-se a este movimento, o começo da recuperação da economia norte-americana e consequente aumento da atratividade de seus títulos no mercado. Além disso, como o Brasil ainda não é um grande exportador de petróleo e derivados, o aumento da cotação do dólar refletiu de forma negativa, pesando cada vez mais sobre os custos de produção e investimentos do setor.
No campo político, a manutenção, por tempo prolongado, dos preços dos derivados de petróleo por imposição do governo brasileiro, sob a alegação da necessidade de manter a inflação sob controle, é um comportamento absolutamente previsível, levando-se em conta o histórico e o discurso do governo nos últimos 10 anos. Apenas para ilustrar este comportamento estatal mais forte, basta observarmos os indícios deste comportamento através da dificuldade com que o governo lida com o programa de concessões à iniciativa privada, para questões de infraestrutura. Outro ponto, ainda no campo político, que deveria ter merecido atenção especial, quanto à análise de cenários futuros, foi à substituição do presidente da Petrobrás, Sr. Sérgio Gabrielli, político do partido do governo, pela Sra. Maria das Graças Silva Foster, profissional de carreira da empresa com perfil técnico e de gestão. Apesar da presidente da Petrobrás não responder pela política de preços de derivados de petróleo, praticada pela empresa, ela tem um histórico de atuação amplo dentro da empresa, tendo passado por diversos setores, onde adquiriu um grande conhecimento sobre as operações. Seu o perfil é de um profissional rigoroso, que possui conhecimentos econômicos, técnicos e de gestão, tendo atuado com destaque em planejamento de projetos e reestruturação financeira. 

Gostaria de ressaltar que há inúmeros outros sinais, não mencionados aqui, que permitiriam a construção mais rápida e eficiente de cenários para este caso, entretanto, levando-se em conta apenas o perfil da presidente da Petrobrás, a situação da empresa e a impossibilidade dela atuar sobre a política de preços dos combustíveis para aliviar a pressão no caixa da companhia, seria de se esperar (ou suspeitar) que ela optasse em promover uma reestruturação na cadeia de custos da companhia (cortar gastos, renegociar contratos e adiar investimentos), uma vez que esta medida é de caráter interno, portanto, tendo poucas chances de sofrer ingerências do governo e permitindo a criação de certa folga no caixa.

Como pudemos perceber, manter um trabalho permanente de avaliação de riscos e antecipação de mudanças, através de um acompanhamento atento aos movimentos do mercado, dos ambientes e dos “stakeholders”, não diz respeito apenas a um mero ajuste fino no desempenho das empresas, mas na maioria das vezes, é uma questão de sobrevivência.  

Luiz Fernando Magri
Consultor Sênior
GLOBAL ON Consultores Associados